Takao Akizuki é um estudante de 15 anos que um dia aspira ser um fabricante de sapatos. Em manhãs chuvosas, Takao deixa de fazer a baldeação no metrô e decide matar as primeiras aulas do dia para poder dar uma volta pelos jardins do Parque Nacional Shinjuku Gyoen (localizado em Tóquio). Se acomodando debaixo de um “pergolado” para desenhar sapatos femininos, Takao conhece Yukino, que coincidentemente sempre está presente nas manhãs de dias chuvosos – o que ocorre com certa frequência considerando a época de chuvas (junho, no Japão) – faltando trabalho para tomar algumas cervejas enquanto observa o parque e a chuva.

O que inicialmente seriam apenas dois estranhos que coincidentemente sempre se encontram no mesmo lugar em dias chuvosos, começa a se tornar uma amizade peculiar entre duas pessoas que, de certa forma, estão buscando um escapismo de suas realidades.

Makoto Shinkai é um diretor conhecido no Japão pela sutileza artística de suas animações e a condução narrativa guiada pela sua sensibilidade estética. Conhecido por alguns como o sucessor do mestre Hayao Miyazaki (diretor de clássicos doStudio Ghibli), Shinkai tem um jeito peculiar de retratar seus personagens em diversos simbolismos. Conforme as estações do ano passam, seus personagens amadurecem, se descobrem e evoluem. O ato de deixar de entrar no trem evidencia o medo do futuro, do desconhecido, de seguir adiante. Esses são apenas alguns simbolismos imagéticos explorados na trama de O Jardim das Palavras.

Porém, mais importante é a forma como o diretor trata do “amor”, como algo que vai além da relação física e romântica (que podemos dizer com segurança que é o sentido mais comum quando retratamos deste sentimento) e engloba o afeto interpessoal do cotidiano e a admiração que temos por outras pessoas, as quais são responsáveis por não apenas nos fazer bem diariamente, como nos fazem evoluir como pessoas, nos ajudam a superar nossos medos e nos ensinam novamente a caminhar com nossos próprios pés.

O Jardim das Palavras é um média-metragem belíssimo (tem apenas 40 e poucos minutos de duração) que explora sentimentos belíssimos, tanto os bons quanto ruins, mas que fazem parte da vida de todos nós. Visualmente arrebatadora e acompanhada de uma trilha sonora sensível, a obra mostra que as pessoas julgando Shinkai como “sucessor” de Miyazaki estão corretas.